sábado, 29 de outubro de 2011

29 de outubro: DIA NACIONAL DO LIVRO

 


                      29 de outubro foi escolhido para ser o “Dia Nacional do Livro”, porque esta é  a data de aniversário da fundação da Biblioteca Nacional. Na realidade, nesse dia, foi realizada a transferência da Real Biblioteca portuguesa para o Brasil.
  





LIVRO: a troca






"Prá mim, livro é vida; desde muito pequena os livros me deram casa e comida.

Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé fazia parede; deitado, fazia

degrau de escada;

inclinado, encostava num outro e fazia telhado.

E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro prá brincar de morar em livro.

De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar prás paredes).

Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.

Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.

Mas fui pegando intimidade com as palavras.

E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado
ou de construir novas casas.

Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.

Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia;

e de barriga assim cheia me levava prá morar no

mundo inteiro: iglu, cabana, palácio,

arranha-céu,

era só escolher e pronto, o livro me dava.

Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa

 troca tão gostosa que

- no meu jeito de ver as coisas -

é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.

Mas como a gente tem mania de sempre querer mais,

eu cismei de um dia alargar a troca: comecei a fabricar tijolo prá - em algum lugar -

uma criança juntar com outros e levantar a casa onde ela vai morar".


Lygia Bojunga Nunes

domingo, 16 de outubro de 2011

"LIMITES DO AMOR" por Affonso Romano de Sant'Ana

"Limites do Amor

Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta
".

Affonso Romano de Sant'Ana


Outras leituras:


sábado, 15 de outubro de 2011

DIA DO PROFESSOR!!!!! por Sara Menck



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  ATENÇÃO, professores, chamada!








  Professor Ainda Vale a Pena Ser Professor??

-   ...

-   Professor Ainda Vale a Pena Ser Professor??
...

- Professora, hoje ele faltou, mas ontem ele veio!! 

- Verdade, tenho algumas faltas dele aqui!!




-   Professor Amigo?
- Aqui!




- Professor Brincalhão?
 - Here!!

  Professor Companheirão?!
 -  Sempre aqui!!

  -   Professor Distante?

...  eu??



-   Professor Esquece de Entregar Trabalhos e Provas?
- ...  o quê?


  -   Professor Enérgico?
-   PRESENTE.



  -   Professor Eterno Estudante?
-   Preseeeente!!


- Professor Humilde?
-   ... presente...


Professor Mal Humorado?
-   CLARO QUE ESTOU PRESENTE!


   -  Professor Muito Massa?
-  PRÉ - SENTE!!


   -   Professor Organizado?
-   Presente.



-   Professor Respeitado?
-   ...


 -  Professor Sonhador?

...

PROFESSOR SONHADOR, esta no mundo da lua???!!!
  Ahn?? Ah, aqui...  presente!!!! Desculpe, estava vendo um projeto...



   -  Professor Um Alguém Significativo na Vida de Tantos??
  Professor presente.



   -  Professor Valorizado?
...


           -   PROFESSOR VALORIZADO?

  ...   




Caros colegas:  acredito mesmo que temos um pouco de cada um e, apesar de tudo,  ainda podemos marcar bem o presente!!!!!


Sara Maria


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PRECE(1941)




Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,

De ser o coração singelo que perdoa,

A solícita mão que espalha, sem medidas,

Estrelas pela noite escura de outras vidas

E tira d’alma alheia o espinho que magoa.” 

(KOLODY, Helena)






quinta-feira, 13 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia Nacional da Leitura por Sara Menck




“A diferença entre uma coisa e a mesma coisa é

o olhar que lançamos à coisa”.

  

A leitura é um processo longo que se inicia no berço. A criança aprende a “ler” aqueles que estão ao seu redor e compreende, rapidinho, qual é o colo que melhor o aconchega... Qual a cantiga mais afetuosa... Qual o abraço mais seguro...



 E é lindo observarmos nos pequenos as suas escolhas... Elas decorrem de suas leituras, seguidas das suas preferências.


Na primeira infância, eles já sabem gostar de folhear livros, ver figuras e apontar com o dedinho aquelas das quais os olhos mais levaram a chamar a atenção.


Eles gostam de ouvir histórias e achar graça nelas. Riem, perguntam, constatam...


Assim, os pais que, desde cedo, desenvolvem leituras diversas com os seus pequenos estão acrescentando a eles uma significativa também leitura de mundo.


A leitura do mundo é um processo natural em todos nós. Aprendemos com os outros; lemos o mundo. Isso acontece até com aqueles que não leem a palavra escrita. Quantas pessoas que conhecemos e que não aprenderam a ler a palavra escrita e que ensinam coisas preciosas a respeito da vida, pois são excelentes leitores de mundo.


 Paulo Freire, um educador estudioso da leitura, nos ensina que “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”. Dessa forma, podemos entender o quão interessante é ver as nossas crianças, junto com a leitura de mundo, desenvolverem o hábito da leitura enciclopédica.


E 12 de outubro foi instituído em 2009 
 pela Presidência da República
como  


O “DIA NACIONAL DA LEITURA”.


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*      Ler é um hábito social. Não nascemos leitores, mas nos tornamos melhores leitores dia a dia.
 
*     Os pais das nossas crianças poderão torná-las excelentes leitoras no mais completo sentido.
Sara Maria

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"O SÍTIO DO PICAPAU AMARELO" por Monteiro Lobato


de como um João-de-barro anima as conversas no Sítio


"Numa casinha branca, lá no Sítio do Picapau Amarelo, mora uma velhinha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta.

Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando:

- Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto...

Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas – Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem.


Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos.

Na casa ainda existem duas pessoas – Tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo.


Emilia foi feita por Tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa.


Apesar disso, Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha entre dois pés de cadeira.


Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos fundos do pomar.


Suas águas muito apressadinhas e mexeriqueiras correm por entre as pedras negras de limo, que Lúcia chama as “Tias Nastácias do rio”.





Todas as tardes Lúcia tomam a boneca e vai passear a beira d’água, onde se senta na raiz de um velho ingazeiro para dar farelo de pão aos lambaris.


Não há peixe do rio que não a conheça; assim que ela aparece, todos acodem numa grande faminteza. Os mais miúdos chegam pertinho; o graúdo parece que desconfiam da boneca, pois ficam ressabiados, a espiar de longe. E nesse divertimento leva a menina horas, até que Tia Nastácia apareça no portão do pomar e grite na sua voz sossegada:

- Narizinho, vovó está chamando!...


O jardim de Dona Benta fica nos fundos da sala de jantar, um verdadeiro amor de jardim, só de plantas antigas e fora de moda.

Flores do tempo de sua mocidade: esporinhas, damas-entre-verdes, suspiros, orelhas-de-macaco, dois pés de jasmim-do-cabo, e outro, muito velho, de jasmim-manga.


Plantado na calçada e a subir pela parede, o velhíssimo pé de flor-de-cera, planta que os modernos já não plantam porque custa muito a crescer.

Até cravo-de-defunto existe lá, flor com que Narizinho implica por ter “cheiro de cemitério”.


E o pomar?

O pomar fica nos fundos da casa, depois do “quintal da cozinha”, onde há um galinheiro, um tanque de lavar roupa e o puxado da lenha.

O poço velho fora fechado depois que Dona Benta mandou encanar a agüinha do morro.


Passado o quintal vem o pomar – aquela delícia de pomar!


Por que delícia?


Porque as árvores são muito velhas, e árvore quanto mais velha melhor para a beleza e a frescura da sombra.

Árvore nova pode ser muito boa para dar frutas bonitas, baixinhas e fáceis de apanhar. Mas para a beleza não há como uma árvore bem velha, bem craquenta, com os galhos revestidos de musgos, liquens e parasitos.


É tão antigo aquele pomar que os vizinhos até caçoam. Vivem dizendo:


- O pomar de Dona Benta está tão velho que qualquer dia se Poe a caducar. As jaqueiras começam a dar mangas e as mangueiras a dar laranjas.

Mas Dona Benta não faz caso. Não admite que se corte uma só árvore – nem o pobre pé de fruta-de-conde encarangado.

Dona Benta diz que cada uma delas lembra qualquer coisa da sua meninice ou mocidade.

- Este pé de laranja-baiana – costuma dizer – foi primeiro que tivemos aqui, e dele saíram os enxertos dos outros. Naquele tempo, laranja-baiana era uma grande novidade. A muda foi presente do defunto Zé das Lombrigas, um português muito trabalhador que morava numa chácara perto da vila.


Impossível haver no mundo lugar mais sossegado e fresco, e mais cheio de passarinhos, abelhas e borboletas.


Como Dona Benta não admite por ali nenhum menino de estilingue, a passarinhada se sente à vontade e faz seus ninhos como se estivessem na Ilha da Segurança. O próprio bodoque de Pedrinho não funciona no pomar.

E que passarinhos existem?


Oh, tantos!... No tempo o pomar enche-se de sabiás de peito vermelho, amigos de cantar a célebre música-dos-sabiá que os pais vão ensinando aos filhotes, sempre igualzinha, sem a menor mudança. E há os sanhaços cor de cinza clara. E as saíras azuis. E as graúnas pretíssimas. E muito canário-da-terra, muito papa-capim. Tiziu, pintassilgo, rolinha, corruíra...


Mas o rei do pomar é o joão-de-barro. Na paineira grande, bem lá no fundo, moram dois, num ninho feito de argila, em forma de forno de assar pão. É o casal mais amigo possível. Não se largam nunca. Onde está um, também está por perto o outro. E se por acaso um se afasta um pouco mais, volta e meio solta uns gritos como quem pergunta: “Onde você está” – e o outro responde: “Estou aqui”.



E, de vez em quando cantam juntos aquele terrível dueto que mais parece uma série de marteladas estridentes e alegres.


- Que coisa interessante, vovó! – disse Pedrinho um dia, quando passava as férias no Sítio. – Repare que eles sempre cantam ou gritam juntos. Um faz uma parte e outro faz o acompanhamento, como no piano...

E é assim mesmo. São tão amigos que até para cantar “cantam a duas mãos”, como diz a boneca Emília.

Certo ano o casal resolveu construir um ninho novo em outro galho da paineira, e durante quinze dias o divertimento dos meninos foi acompanhar de longe aquele trabalho.


Os dois passarinhos traziam da beira do ribeirão um pelote de barro no bico e ficavam ali a colocar aquela massa no lugar próprio, e a bicá-la cem vezes para que ficasse bem ligadinha.


Enquanto um se ocupava naquilo, o outro voava em busca de mais barro. Nunca estavam os dois no mesmo serviço; revezavam-se.


À tardinha interrompiam o trabalho, cantavam o dueto com toda a forca e depois se acomodavam no ninho velho.

O mais curioso foi que, depois de acabado o ninho novo, eles, em vez de se mudarem, resolveram fazer um segundo ninho em cima daquele.

Quem primeiro notou isso foi o Visconde de Sabugosa, que foi, todo assanhado, contar a Dona Benta.

- Venham ver – disse o sabuguinho. – Eles terminaram ontem a construção do ninho novo, mas não se mudaram do velho; em vez disso estão construindo um segundo ninho sobre o novo – uma espécie de segundo andar.

Dona Benta foi com os meninos e viu.

- Por que será, vovó? – quis saber Pedrinho.

- Não sei, meu filho, mas os dois passarinhos devem ter lá suas razões.

- Eu sei – berrou Emília. – É para alugar!...

Todos riram.


- Eu acho – disse Narizinho – que é para acomodar os filhotes quando chegarem ao ponto de voar.

- Isso não – observou Dona Benta. – Porque se os pais construíssem casas para os filhos, estes não aprenderiam a arte da construção e essa arte se perderia. É fazendo que se aprende.

- Mas então esses passarinhos raciocinam, vovó – têm inteligência...


- Está claro que têm, meu filho, a Inteligência é uma faculdade que aparece em todos os seres, não só no homem. Até as plantas revelam inteligência. O que há é que a inteligência varia muito de grau. É pequeníssima nas galinhas e nos perus, mas já bem desenvolvida no joão-de-barro – e é um colosso num homem como Isaac Newton, aquele que descobriu a Lei da Gravitação Universal".


(MONTEIRO LOBATO.  de como um joão-de-barro anima as conversas no sítio. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. 4ª. Edição. São Paulo: Editora Brasiliense; 1991.)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"O REIZINHO MANDÃO" por Ruth Rocha





As crianças, muitas vezes, nos falam coisas interessantes.

 Mas é muito engraçado quando elas criam certas palavras.

 Uma vez, a minha cunhada me contou que a filha, um dia, disse assim - quando começou a anoitecer.
- Mãe, já começou a escuriar...
Claro que, naquele momento, a minha sobrinha expressou o que ela entendia pelo contrário de clarear...
É incrível as  comparações que as crianças fazem ao “criar” novas palavras e organizar os seus pensamentos.

Veja só a história do martelo,

quero dizer, do marmelo,

não, do Marcelo...


Contada por Ruth Rocha e ilustrada por Adalberto Cornavaca.

MARCELO, MARMELO, MARTELO.

Marcelo vivia fazendo perguntas a todo mundo:
- Papai, por que é que a chuva?
-Mamãe, por que é que o mar não derrama?
- Vovó, por que é que o cachorro tem quatro pernas?
As pessoas grandes às vezes respondiam. Às vezes, não sabiam como responder.
-Ah, Marcelo, sei lá...
Uma vez, Marcelo cismou com o nome das coisas:
- Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?
- Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu pai escolhemos.
- E por que é que não escolheram martelo?
-Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta...
- Por que é que não escolheram marmelo?



- Porque marmelo é nome de fruta, menino!
- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?
No dia seguinte, lá vinha ele outra vez:
- Papai, por que é que mesa chama mesa?
- Ah, Marcelo, vem do latim.
- Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?
- Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.
- E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?
-Ai, meu Deus, este menino me deixa louco!
Daí a alguns dias, Marcelo estava jogando futebol com o pai:
-Sabe, papai, eu acho que o tal de latim botou nome errado nas coisas. Por exemplo, por que é que bola chama bola?
- Não sei, Marcelo, acho que bola lembra uma coisa redonda, não lembra?
-Lembra, sim, mas ... e bolo?


- Bolo também é redondo, não é?
- Ah, essa não! Mamãe vive fazendo bolo quadrado...
O pai de Marcelo ficou atrapalhado.

E Marcelo continuou pensando:
“Pois é, esta tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E Bala? Eu acho que as coisas deviam ter o nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim”.


Logo de manhã, Marcelo começou a falar sua nova língua:
- Mamãe, quer me passar o mexedor?
- Mexedor? Que é isso?
- Mexedorzinho, de mexer café.
- Ah, colherinha, você quer dizer.
- Papai, me dá o suco de vaca?
- Que é isso menino?
- Suco de vaca, ora! Que está no suco-da-vaqueira.
- Isso é leite, Marcelo. Quem é que entende este menino?

O pai de Marcelo resolveu conversar com ele:
- Marcelo, todas as coisas têm um nome. E todo mundo tem que chamar pelo mesmo nome porque, senão, ninguém se entende...
- Não acho, papai. Por que é que eu não posso inventar o nome das coisas?


- Deixe de bobagens, menino! Que coisa mais feia!
- Esta vendo como você entendeu, papai? Como é que você sabe que eu disse um nome feio?
O pai de Marcelo suspirou:
- Vá brincar, filho, tenho muito que fazer...
Mas Marcelo continuava não entendendo a história dos nomes. E resolveu continuar a falar, à sua moda. Chegava em casa e dizia:
- Bom solário pra todos...
O pai e a mãe de Marcelo se olhavam e não diziam nada. E Marcelo continuava inventando:
Sabem o que eu vi na rua? Um puxadeiro puxando uma carregadeira. Depois, o puxadeiro fugiu e o possuidor ficou danado.

A mãe de Marcelo já estava ficando preocupada. Conversou com o pai:
- Sabe, João, eu estou muito preocupada com o Marcelo, com essa mania de inventar nomes para as coisas... Já pensou, quando começarem as aulas? Esse menino vai dar trabalho...
- Que nada, Laura! Isso é uma fase que passa. Coisa de criança...


Mas estava custando a passar...
Quando vinham visitas, era um caso sério. Marcelo só cumprimentava dizendo:
- Bom solário, bom lunário... – que era como ele chamava o dia e a noite.
E os pais de Marcelo morriam de vergonha das visitas.



Até que um dia...
O cachorro do Marcelo, o Godofredo, tinha uma linda casinha de madeira que
Seu João tinha feito para ele. E Marcelo só chamava a casinha de moradeira, e o cachorro de Latildo.
E aconteceu que a casa do Godofredo pegou fogo. Alguém jogou uma ponta de cigarro pela grade, e foi aquele desastre!



Marcelo entrou em casa correndo.
- Papai, papai, embrasou a moradeira do Latildo!
O quê, menino? Não estou entendendo nada!


- A moradeira, papai, embrasou...
- Eu não sei o que é isso, Marcelo. Fala, direito!
- Embrasou tudo, papai, está uma branqueira danada!
Seu João percebia a aflição do filho, mas não entendia nada...
Quando seu João chegou a entender do que Marcelo estava falando, já era tarde.
A casinha estava toda queimada. Era um montão de brasas.
O Godofredo gania baixinho...
E Marcelo, desapontadíssimo, disse para o pai:
- Gente grande não entende nada, mesmo!


Então a mãe do Marcelo olhou pro pai do Marcelo.
E o pai do Marcelo olho pra mãe do Marcelo.
E o pai do Marcelo falou:
- Não fique triste, meu filho. A gente faz uma moradeira nova pro Latildo.
E a mãe do Marcelo disse:
É sim! Toda branquinha, com a entradeira na frente e um cobridor bem vermelhinho...



E agora, naquela família, todo mundo se entende muito bem.
O pai e a mãe do Marcelo não aprenderam a falar como ele, mas fazem força pra entender o que ele fala.
E nem estão se incomodando com o que as visitas pensam...



ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. Rio de Janeiro: Salamandra consultoria Editorial S.A, 1976.
Ilustração de Adalberto Cornavaca.


Pai, mãe, avó, avô, estudantes, educadores,


A história esta ai, leia e se delicie com esse gênero -

 história  infantil,

mas gostaria de lembrar que o melhor

 mesmo é a

 criança ter acesso ao livro. É preciso folhear. Ver as

 páginas... os desenhos... os autores... a editora...

.... as letras,

 .... a pontuação,

... as palavras,

 ...e, acima de tudo,

construir o sentido ...